segunda-feira, 2 de abril de 2012

Cimeira alternativa de Bruxelas: a Esquerda disposta a tomar a iniciativa

A imagem exposta por Marisa Matias não poderia ser mais realista e simbólica ao mesmo tempo: em Copenhaga, os ministros das Finanças dos 27 construindo um "muro de proteção" da União Europeia para "recuperarem a confiança dos mercados"; em Bruxelas, simultaneamente, a Esquerda da Europa construindo o seu "muro" debatendo os caminhos para "recuperar a confiança dos cidadãos europeus".
Dois muros frente a frente, mercados versus cidadãos, a dicotomia com que se debate a União Europeia e que esteve bem presente na Cimeira Alternativa, a grande reunião que juntou em Bruxelas, durante o fim de semana, dezenas de representantes de partidos, organizações e redes sociais, movimentos de cidadania, sindicatos, deputados e eurodeputados, investigadores, académicos com um único objetivo: conseguir que a Esquerda da União Europeia se una para fazer frente ao austeritarismo tal como as correntes neoliberais, sejam elas a direita ou grupos sociais democratas travestidos, se congregam para o impor.
Ideias, propostas, exemplos, sugestões jorraram em torrente durante as sessões de trabalho realizadas nas instalações da Central dos Sindicatos Cristãos em Bruxelas, num extenso pluralismo procurando a convergência na ação com objetivos que muitos entendem dever passar pela restauração dos valores democráticos e pela refundação da Europa, tal a degradação a que elite neoliberal conduziu a União Europeia.
Em 2009, lembrou Francisco Louçã, que fez a sua comunicação durante a sessão de abertura, a crise do subprime fez com que muitos pensassem que "era o fim do neoliberalismo, das Fitch, das Moody's, das Golden Sachs; mas elas voltaram, e voltaram muito mais autoritárias". Contra isso, disse Francisco Louçã, dando como exemplo a greve geral em Espanha – como muitos outros oradores – "há que lutar em conjunto". O Bloco de Esquerda, acrescentou, "há muito que vem defendendo a realização de uma cimeira como esta". Até porque, acrescentou, " Sabemos muito mais agora sobre a profundidade da recessão e talvez início da depressão do que antes; sabemos agora como o capital pode ser agressivo no ataque aos salários e aos serviços públicos; temos que uma estratégia comum para responder ao capital, desvalorizar o capital, lutar contra o capital".
Dos 27 países da União deslocaram-se a Bruxelas representantes de organizações de 23, o que permitiu fazer um levantamento de questões específicas dessas nações e dos fatores comuns que podem suscitar ações comuns. Entre estas várias ideias surgiram, como a realização de uma enorme manifestação europeia contra o pacto de austeridade, também conhecido por "pacto fiscal", ou a realização de um fórum a exemplo do Fórum Social de Florença há 10 anos, agora já com outras experiências e outras consequências de uma crise atribuída, pela generalidade dos oradores, ao capitalismo e ao seu esforço de sobrevivência.
O reforço ou restauração da democracia foi um dos temas abrangentes da reunião. Desde a explicação de uma situação local escandalosa como a do Vale do Susa, em Itália, onde os governos de Roma transformaram a construção de um desnecessário TGV no maior veículo de transferência de dinheiros públicos para empresas privadas, sustentada por uma ocupação militar que transformou um museu do neolítico em caserna; até ao conceito de "rutura democrática" explicado na intervenção de Gus Massiah, do Conselho do Fórum Social Mundial.
"Reinventar a democracia é reinventar a política", disse Massiah . E partindo da emergência dos movimentos "occupy" e "indignados" e do seu conceito de 99 por cento da população mundial contra um por cento de ricos traçou um outro cenário. Mesmo partindo do princípio de que os ultra-ricos não são um por cento, mas sim 0,01%, a verdadeira questão disse, é que do lado dos mobilizados está apenas um por cento. O que fazer então para envolver os 98 por cento de alheados num combate contra o neoliberalismo de que são vítimas mas que não contestam.
Um tema retomado por Paolo Ferrero, secretário da Refundação Comunista de Itália. Constatou que a ideologia imposta pela propaganda neoliberal concretiza um ataque global contra direitos democráticos ao qual não há uma resposta global. "Estamos na defensiva", disse Ferrero. Entre os muitos que contestam as consequências da crise, acrescentou, não é certo que haja a noção de que existe alternativa à especulação apresentada como uma espécie de "divindade", não é certo que considerem que existe alternativa ao neoliberalismo.
Veio então à baila a questão do Banco Central Europeu e das respostas a dar às medidas de governação económica inseridas no pacto fiscal.
"Uma das bases da especulação é que o BCE empresta aos bancos a juros baixos e não empresta aos Estados; alterar este quadro é uma pré-condição para criar uma alternativa na Europa", defendeu o secretário da Refundação Comunista.
A eurodeputada Marisa Matias, da Esquerda Unitária (GUE/NGL) eleita pelo Bloco de Esquerda, já abordaram a mesma questão com números impressionantes. Os empréstimos feitos desde Dezembro último pelo Banco Central Europeu aos bancos privados a juros ridículos de um por cento correspondem a 15 vezes o valor do primeiro resgate a Portugal – em condições agiotas – a quatro vezes a soma dos dois resgates à Grécia.
"Como pode recuperar-se a confiança dos cidadãos europeus com medidas como estas?", perguntou Marisa Matias. A propósito citou outro exemplo, muito recente, o da taxas sobre transações financeiras tal como estão previstas pela Comissão Europeia. Ao cabo de muitas promessas, recordou, a proposta não prevê que as taxas sobre as transações financeiras sejam utilizadas na criação de emprego mas apenas na diminuição da contribuição dos Estados para o orçamento europeu. "Assim conquista-se a confiança dos mercados, mas não a dos cidadãos", sublinhou a eurodeputada portuguesa. "Se não nos juntarmos, não lutarmos em conjunto, medidas corretas jamais verão a luz do dia".
Também Trevor Evans, economista e representante da associação Euromemorandum , abordou a necessidade de transformar o papel do BCE e a insuficiência do orçamento da União Europeia. "Não temos uma política para o desenvolvimento, não temos possibilidade de investir a longo prazo", disse – facto que Francisco Louçã notara já como consequência de um outro aspecto: a imposição dos défices de 0,5 por cento, que impedem os Estados de agir.
E, no entanto, sublinhou Trevor Evans, "o défice fiscal não é uma causa da crise, é uma consequência da crise", acrescentando que as políticas de austeridade não têm como objectivo combater a crise mas tornar os povos reféns da própria crise.
Questão de fundo para a Esquerda: como organizar a luta global de massas contra um regime neoliberal que é global?
"Na Europa existe uma degradação global do Estado social mas não podemos dizer que exista um movimento global de resistência, um movimento europeu de massas credível com capacidade transformadora e de criação de esperança", disse Gianni Rinaldi, secretário da central sindical italiana CGIL. "As instituições europeias não têm uma relação democrática com os cidadãos europeus, a democracia está a implodir na Europa", acrescentou.
Ideia que outra oradora, igualmente italiana, expressou por outras palavras: "democracia é o único instrumento de mudança; estão a destruir a democracia para destruir o modelo social europeu".
Sobre este aspeto, numa outra perspetiva, usou da palavra Jan Kavan, ex-ministro do governo checo e ex-presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas. "Instaurar a cultura democrática é mais demorado do que instaurar a democracia", disse a propósito da situação na generalidade dos países que estiveram na esfera soviética. "As pessoas que queriam o fim do regime comunista não queriam esta situação" que resultou da transição automática para o neoliberalismo. "Não há democracia a funcionar no Leste, as decisões são impostas pela oligarquia".
Restaurar a democracia, refundar a Europa, o que torna inevitável lutar pela alteração de tratados, concretizar uma resposta global de massas ao poder global neoliberal, conjugar esforços entre instituições cujas ações andam dispersas, como notaram, por exemplo, as representantes da Attac ou da britânica Coligação Resistência, substituir os interesses dos mercados pelos interesses dos cidadãos, instaurar a solidariedade no lugar da lei "dividir para reinar", tais são algumas linhas programáticas de um longo caminho a percorrer pela Esquerda por decisão da própria Esquerda numa Cimeira Alternativa que poderá ter sido um ponto de viragem.

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Comunicado do Bloco de Esquerda sobre a Escola EB2,3 de Minde

Consulte no link abaixo:

Requerimento ao Secretário de Estado do Ambiente

Bloco requereu a vinda do Secretário de Estado do Ambiente

à AR para esclarecer funcionamento da ETAR de Alcanena

O deficiente funcionamento da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena, com mais de 20 anos, tem sido extremamente penalizador para a qualidade de vida e saúde pública das populações deste concelho, além de ser responsável pela poluição de recursos hídricos e solos.

Esta ETAR, destinada a tratar os efluentes da indústria de curtumes, foi desde a sua origem mal concebida, a começar por se situar em leito de cheia. Desde então os problemas são conhecidos e persistem: maus cheiros intensos; incumprimento regular dos valores-limite estabelecidos para o azoto e CQO das descargas de efluente tratado em meio hídrico; célula de lamas não estabilizadas, com deficiente selagem e drenagem de lixiviados e biogás; redes de saneamento corroídas, com fugas de efluentes não tratados para o ambiente; saturação da ETAR devido a escoamento das águas pluviais ser feita nas redes de saneamento.

Desde há muito que estes problemas são conhecidos e nada justifica, ainda mais com todo o avanço tecnológico existente ao nível do funcionamento das ETAR, que se chegue ao final de 2010 com esta situação. E pior se compreende quando é o próprio Ministério do Ambiente a constatar que gastou ao longo dos anos cerca de 50 milhões de euros para tentar responder a estes problemas.

Em Junho de 2009 foi assinado um protocolo para a reabilitação do sistema de tratamento de águas residuais de Alcanena pela ARH Tejo, o INAG, a Câmara Municipal e a AUSTRA (gestora da ETAR), com investimentos na ordem dos 21 milhões de euros de comparticipação comunitária.

Este protocolo inclui cinco projectos, os mais importantes dos quais com prazo final apenas em 2013, o que significa arrastar os principais problemas identificados até esta data. Como os prazos de início dos estudos destes projectos já sofreram uma derrapagem, dúvidas se colocam sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos, ainda mais quando não há certezas sobre a disponibilização de verbas nacionais para co-financiar os projectos, tendo em conta o contexto de contenção actual.

Considerando a gravidade dos problemas causados pela ETAR de Alcanena para as populações e o ambiente, o deputado José Gusmão e a deputada Rita Calvário do Bloco de Esquerda solicitam uma audiência com o Secretário de Estado do Ambiente, com a finalidade de obter esclarecimentos sobre os investimentos previstos para a reabilitação do sistema de tratamento, as soluções escolhidas, o cumprimento de prazos, e as garantias que os mesmos oferecem para resolver o passivo ambiental existente, os focos de contaminação dos recursos hídricos e solo, os maus cheiros e qualidade do ar respirado pelas populações deste concelho. Seria de todo útil que o presidente ou representantes da ARH-Tejo estivessem presentes nesta audiência.

Lisboa, 17 de Dezembro de 2010.

A Deputada O Deputado

Rita Calvário José Gusmão

Direito a não respirar “podre” – SIM ou NÃO?





No passado domingo, dia 12 de Dezembro, no Auditório Municipal de Alcanena, realizou-se uma conferência, dinamizada pelo Bloco de Esquerda, sobre a poluição em Alcanena.
Esta sessão reuniu um grupo de ‘preocupados’, que primeiramente ouviram as exposições de especialistas sobre o assunto e, no final, trocaram experiências e pontos de vista, baseados na própria vivência, bem como em conhecimentos técnicos e científicos.
Ficou bem patente que se trata de um grave problema de há muito sentido, mas também desvalorizado, do qual até ao momento não se conhecem as verdadeiras implicações para a saúde pública, mas que transtorna a vida de todos os que vivem e trabalham no concelho, tornando desagradável e doentio o seu dia a dia.
Ficou também claro que o Bloco de Esquerda, aliado desta causa, não abandonará a luta, que será levada até onde os direitos das pessoas o exigirem.

Comunicado de Imprensa

Leia em baixo o Comunicado de Imprensa de 3 de Dezembro do Bloco de Esquerda em Alcanena.

Clique aqui para ler

Reclamamos o DIREITO A RESPIRAR

Bloco de Esquerda continua na senda de uma solução para o grave problema de poluição ambiental em Alcanena



Na passada sexta-feira, dia doze de Novembro, uma delegação, composta pelo Deputado do Bloco de Esquerda pelo Distrito de Santarém, José Gusmão, e mais dois elementos do Bloco, foi recebida pela administração da Austra, no sentido de esclarecer alguns pontos relativos ao funcionamento da ETAR e à poluição que de há muito tem afectado Alcanena, com acrescida intensidade nos últimos tempos.

O Bloco de Esquerda apresentou já um requerimento ao Ministério do Ambiente, aguardando resposta.

Após a reunião com a administração da Austra, realizou-se na Sede do Bloco em Alcanena uma Conferência de Imprensa para fazer o ponto da situação.

Da auscultação da Austra, ficou claro para o Bloco de Esquerda que a ETAR de Alcanena não reúne as condições minimamente exigíveis, quer do ponto de vista do cumprimento da lei, quer da garantia de índices de qualidade do ar compatíveis com a saúde pública e o bem estar das populações.

A delegação do Bloco de Esquerda obteve do presidente da Austra o compromisso da realização de operações de monitorização da qualidade do ar em Alcanena, a realizar o mais tardar em Janeiro. De qualquer forma, o Bloco de Esquerda envidará esforços para que essa monitorização ocorra de forma imediata.

Embora existam planos para a total requalificação dos sistemas de despoluição, registamos com preocupação a incerteza sobre os financiamentos, quer nacional quer comunitário. O Bloco de Esquerda opor-se-á a que estes investimentos possam ser comprometidos por restrições orçamentais, e exigirá junto do Governo garantias a este respeito.

A participação popular foi e continuará a ser um factor decisivo para o acompanhamento e controlo da efectiva resolução do problema da qualidade do ar em Alcanena.

No âmbito da visita do Deputado do Bloco de Esquerda, José Gusmão, ao Concelho de Alcanena, realizou-se um jantar-convívio no Restaurante Mula Russa em Alcanena, ocasião também aproveitada para dialogar sobre assuntos inerentes ao Concelho. Mais tarde, José Gusmão, conviveu com um grupo de jovens simpatizantes num bar deste concelho.

No sábado, dia treze de Novembro, José Gusmão e outros elementos do Bloco de Esquerda estiveram em Minde, no Mercado Municipal, distribuindo jornais do Bloco, ouvindo e conversando com as pessoas.

Neste mesmo dia, junto ao Intermarché de Alcanena, José Gusmão contactou com as pessoas e entregou jornais do Bloco de Esquerda.

Num almoço realizado em Minde, no Restaurante Vedor, com um grupo de aderentes e simpatizantes do Bloco, houve mais uma vez oportunidade para ouvir opiniões, experiências e expectativas, bem como de exprimir pontos de vista.

O Bloco de Esquerda continuará a luta por um direito que parece ser inerente à própria condição humana, mas que vem sendo negado às pessoas que vivem e trabalham em Alcanena – o direito de respirar ar “respirável” e de não ser posta em causa a sua saúde.


A Coordenadora do Bloco de Esquerda de Alcanena

Poluição em Alcanena: Requerimento à Assembleia da República

Pessoas esclarecidas conhecem o seu direito de respirar ar puro e lutam pela sua reconquista já que alguns até isto usurparam.

O Bloco de Esquerda encetou a luta pela despoluição de Alcanena na legislatura anterior e continuará a manifestar-se e a rebelar-se contra esta desagradável e injusta situação até que no nosso concelho possamos respirar de novo.


Veja aqui Requerimento apresentado pelo BE quanto à questão da poluição em Alcanena

Carta à AUSTRA

Carta entregue pelo grupo de cidadãos "Chega de mau cheiro em Alcanena" ao Presidente da Austra e Presidente da Câmara Municipal de Alcanena

INAUGURAÇÃO DA SEDE DO BLOCO DE ESQUERDA EM ALCANENA

Francisco Louçã inaugurou no passado domingo, dia 31 de Outubro, a Sede do Bloco de Esquerda em Alcanena. Na inauguração esteve também representada a Coordenação Distrital do Partido; estiveram presentes aderentes e convidados. Esta ocasião especial foi uma oportunidade de convívio, acompanhada de um pequeno beberete.
Francisco Louçã falou, como sempre, de forma clara e apelativa, abordando a actual situação crítica do país,apontando as razões, propondo alternativas e caminhos.
Baseando-se no Socialismo Democrático, o Bloco de Esquerda tem sido sempre activo na defesa dos valores da verdadeira Democracia, e propõe-se continuar essa luta. Esta nova Sede é mais um ponto de encontro, de trabalho, de partilha de pontos de vista e de tomada de iniciativas, possibilitando que se ouçam as vozes de todas as pessoas e transmitindo os seus problemas e expectativas.
Trata-se de um pequeno espaço, que representa uma grande vontade de mudança e que espera contar com a presença de todos os que partilhem os ideais de um concelho mais próspero, de uma sociedade mais justa e equilibrada, de um país realmente mais avançado.