sábado, 10 de dezembro de 2011

"Refundação da Europa" feita por diktat

As conclusões da cimeira europeia representam sobretudo a ameaça de um novo reforço da austeridade e institucionalizam o diktat franco-alemão. Por José Goulão, em Bruxelas
A cimeira adotou na íntegra a carta de Merkel e Sarkozy - Angela Merkel à chegada à cimeira europeia de dezembro de 2011
A cimeira adotou na íntegra a carta de Merkel e Sarkozy - Angela Merkel à chegada à cimeira europeia de dezembro de 2011
Os resultados da cimeira europeia concluída na madrugada de sexta-feira, sob pressão para que as conclusões fossem anunciadas antes da abertura das bolsas, representam acima de tudo a ameaça de um novo reforço da austeridade contra os cidadãos europeus e institucionalizam o diktat franco-alemão sobre as instituições europeias através da adoção na íntegra da carta elaborada durante a semana pela chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, Nicholas Sarkozy. A carta será transformada em tratado durante os próximos meses envolvendo os 17 países da Zona Euro e os que se queiram associar. O Reino Unido rejeitou essa opção, que os promotores pretendem impor aos Estados signatários sem que seja sujeita a referendo pelos seus povos. (leia A reunião decisiva)
As conclusões da cimeira foram escritas por antecipação na carta de Merkel e Sarkozy e assentam na criação de uma “União para a Estabilidade e o Crescimento” transformada em “tratado refundador” da UE e que prevê a “governança económica” da Eurozona através de mecanismo orçamentais unificadores e obrigatórios – os que têm servido de base à política de austeridade imposta a pretexto do combate à crise. As medidas são acompanhadas por sanções aos Estados incumpridores a aplicar através de um mecanismo que envolve a Comissão Europeia e o Tribunal Europeu de Justiça.
A “União para a Estabilidade e o Crescimento” é apresentada como o pilar que tem faltado no âmbito da União Económica e Monetária para acompanhar e salvaguardar o euro. As medidas impostas retomam o limite máximo de défice de 3% inscrito no Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC) agravadas pelo objetivo de introduzir na legislação ou Constituições dos Estados signatários o limite máximo de défice de 0,5% - valor que surgiu, segundo informações obtidas nos bastidores, para contornar as críticas segundo as quais a tese do défice zero é irreal.
A União para a Estabilidade e Crescimento é obrigatória para os países da Zona Euro e estará aberta à adesão dos países que o desejem e se comprometam com a política de austeridade e as outras medidas estabelecidas pelo diretório franco-alemão.
O Reino Unido, através do primeiro ministro, David Cameron, é o único Estado membro da União que desde já rejeita a adesão ao novo tratado, não por discordar da política de austeridade mas por recusar a formulação, não quantificada por Merkel e Sarkozy, de prever mecanismos de regulação financeira.
“Preferíamos uma reforma dos tratados a 27, mas isso não é possível devido à posição dos nossos amigos britânicos; haverá portanto um tratado intergovernamental a 17 aberto aos que queiram juntar-se”, declarou o presidente francês durante a sua conferência de imprensa realizada na madrugada de sexta-feira.
Contrariando as opiniões dominantes segundo as quais Londres se auto-excluiu da União Europeia, de que por exemplo se fez eco o primeiro ministro italiano Mario Monti, David Cameron comentou que “é certo que existe uma mudança nas nossas relações com a Europa, mas o cerne da nossa relação – o mercado único, o comércio, o investimento, o crescimento e o emprego – continua o mesmo”.
Considerado um reforço recente da ortodoxia neoliberal nos meandros da União, colocando-se ao lado de Merkel e Sarkozy nesse domínio, Mario Monti fez uma declaração significativa sobre a polémica entre Bruxelas e Londres. “Pessoalmente desagrada-me”, disse, ”porque é do interesse da Itália haver países capazes de contrabalançar a influência de membros como a França; mas as condições colocadas por Cameron eram inaceitáveis até para mim”.
Nos bastidores da cimeira, em contactos informais, houve questões que Merkel, Sarkozy e os seus seguidores não conseguiram explicar, num momento em que a Europa caminha para a recessão, quando foram colocados perante a contradição entre os objetivos de estabilidade e crescimento e os efeitos contrários provocados pela política de austeridade que vai ser institucionalizada em tratado, um processo que o candidato presidencial francês Jean-Luc Mélanchon qualifica como a aplicação de um “regime austeritário”.
Outra das decisões chave para o novo tratado é a futura criação de um Mecanismo Europeu Intergovernamental Permanente para a Estabilidade” (MES), um novo fundo financeiro supostamente para apoio aos Estados mais afetados pelo combate à dívida soberana e que, ao contrário do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF), não será temporário.
O MES será dotado com 500 mil milhões de euros, uma verba que poderá ser revista durante o próximo ano, e a sua criação levanta desde já as mesmas dúvidas de eficácia reveladas pelo FEEF, dotado com 440 mil milhões de euros, atualmente reduzidos a 250 mil milhões, e que a cimeira anterior decidiu, com grande eco propagandístico, ampliar para um bilião de euros. Essa medida foi, até ao momento, um fiasco absoluto. Desta feita os Estados membros vão decidir no prazo de 10 dias se farão um empréstimo de 200 mil milhões ao FMI para que o FMI garanta a cobertura do fundo. Nos bastidores correu a especulação de que se o FEEF é considerado insuficiente para fazer frente a problemas reais, por exemplo a possibilidade de explosão de uma grande economia da União como a italiana, também o volume do MES não resolverá o problema. Há poucos dias o FEEF foi colocado “sob vigilância” pelas agências de notação norte-americanas.
A gestão do MES foi atribuída ao Banco Central Europeu – que mantém em absoluto o estatuto baseado na imagem do antigo Bundesbank, ignorando a Alemanha todas as críticas e propostas que foram apresentadas – decisão considerada encorajadora; porém, trata-se de um compromisso apenas tolerado por Berlim para rejeitar a sugestão de Van Rompuy e Barroso sobre o eventual papel do MES como instituição de crédito a países em dificuldades. Este fundo deverá entrar em funcionamento em Julho de 2012.
Um exemplo de como a imposição do diktat franco-alemão foi praticamente total é o facto de a cimeira ter adotado o processo de tomada de decisões no MES por maioria super-qualificada de 85% e não por unanimidade. O mais longe que alguns países foram nas reservas, designadamente a Finlândia, é a obrigatoriedade de consulta ao Parlamento antes de tomar uma decisão.
Em termos de institucionalização da política de austeridade, a cimeira decidiu que os países da Zona Euro – e os aderentes voluntários – sejam automaticamente sancionados se ultrapassarem o défice público de 3% do PIB; por sua vez, o limite de 0,5% será inscrito nas legislações nacionais, ou nas Constituições, sob supervisão do Tribunal Europeu de Justiça – o que representa, a par da institucionalização da uniformização orçamental e da governança económica será outro meio de ataque à soberania dos Estados membros.
“Isso vai ser a base de um pacto orçamental e de mais disciplina em matéria de política económica entre os membros da Zona Euro”, comentou Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu.
Fontes do BCE citadas pelo Monde afirmaram que os resultados da cimeira estão de acordo com o Conselho de Governadores da instituição, que a partir de agora considera desnecessário tomar quaisquer novas medidas de apoio aos países mais afetados pelo problema da dívida. Isto significa o abandono gradual da compra pelo BCE de obrigações de países membros, já atualmente limitada a 20 mil milhões de euros por semana.
Apesar de o assunto da mutualização da dívida a 17 através dos eurobonds ter estado em cima da mesa e ter vindo a ser verbalmente defendido pelo presidente da Comissão, não é objeto de qualquer alusão nas conclusões da cimeira e nas declarações dos dirigentes.
Durão Barroso, nas suas declarações finais, mostrou-se mais disponível para dinamizar o processo de “agilização” do novo tratado – isto é, subtraí-lo à opinião e parecer dos cidadãos europeus – que Paris e Berlim querem pronto em Março.
Em princípio, deverá realizar-se uma reunião de ministros das Finanças da Zona Euro, aberta aos “voluntários”, já na próxima semana em Bruxelas. Uma cimeira com o mesmo formato poderá realizar-se em Janeiro.
A base de trabalho que vai ser seguida a partir de agora para a elaboração do tratado será a carta do diretório franco-alemão, conforme reconhece a generalidade da imprensa europeia.
Essa carta inclui um compromisso perante os mercados de que situações como a da dívida grega não voltarão a acontecer.
As bolsas europeias, e também Wall Street, reagiram com subidas às decisões a cimeira, o que tem vindo a ser regra no dia a seguir às 16 reuniões do género já realizadas desde o início da crise. Também é regra que na semana seguinte regressem a desconfiança e as descidas nas principais praças financeiras mundiais.
A reação norte-americana aos resultados da cimeira não foi muito efusiva, facto a que não é estranho o facto de o Reino Unido deles se ter distanciado.
José Goulão, em Bruxelas

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Comunicado do Bloco de Esquerda sobre a Escola EB2,3 de Minde

Consulte no link abaixo:

Requerimento ao Secretário de Estado do Ambiente

Bloco requereu a vinda do Secretário de Estado do Ambiente

à AR para esclarecer funcionamento da ETAR de Alcanena

O deficiente funcionamento da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena, com mais de 20 anos, tem sido extremamente penalizador para a qualidade de vida e saúde pública das populações deste concelho, além de ser responsável pela poluição de recursos hídricos e solos.

Esta ETAR, destinada a tratar os efluentes da indústria de curtumes, foi desde a sua origem mal concebida, a começar por se situar em leito de cheia. Desde então os problemas são conhecidos e persistem: maus cheiros intensos; incumprimento regular dos valores-limite estabelecidos para o azoto e CQO das descargas de efluente tratado em meio hídrico; célula de lamas não estabilizadas, com deficiente selagem e drenagem de lixiviados e biogás; redes de saneamento corroídas, com fugas de efluentes não tratados para o ambiente; saturação da ETAR devido a escoamento das águas pluviais ser feita nas redes de saneamento.

Desde há muito que estes problemas são conhecidos e nada justifica, ainda mais com todo o avanço tecnológico existente ao nível do funcionamento das ETAR, que se chegue ao final de 2010 com esta situação. E pior se compreende quando é o próprio Ministério do Ambiente a constatar que gastou ao longo dos anos cerca de 50 milhões de euros para tentar responder a estes problemas.

Em Junho de 2009 foi assinado um protocolo para a reabilitação do sistema de tratamento de águas residuais de Alcanena pela ARH Tejo, o INAG, a Câmara Municipal e a AUSTRA (gestora da ETAR), com investimentos na ordem dos 21 milhões de euros de comparticipação comunitária.

Este protocolo inclui cinco projectos, os mais importantes dos quais com prazo final apenas em 2013, o que significa arrastar os principais problemas identificados até esta data. Como os prazos de início dos estudos destes projectos já sofreram uma derrapagem, dúvidas se colocam sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos, ainda mais quando não há certezas sobre a disponibilização de verbas nacionais para co-financiar os projectos, tendo em conta o contexto de contenção actual.

Considerando a gravidade dos problemas causados pela ETAR de Alcanena para as populações e o ambiente, o deputado José Gusmão e a deputada Rita Calvário do Bloco de Esquerda solicitam uma audiência com o Secretário de Estado do Ambiente, com a finalidade de obter esclarecimentos sobre os investimentos previstos para a reabilitação do sistema de tratamento, as soluções escolhidas, o cumprimento de prazos, e as garantias que os mesmos oferecem para resolver o passivo ambiental existente, os focos de contaminação dos recursos hídricos e solo, os maus cheiros e qualidade do ar respirado pelas populações deste concelho. Seria de todo útil que o presidente ou representantes da ARH-Tejo estivessem presentes nesta audiência.

Lisboa, 17 de Dezembro de 2010.

A Deputada O Deputado

Rita Calvário José Gusmão

Direito a não respirar “podre” – SIM ou NÃO?





No passado domingo, dia 12 de Dezembro, no Auditório Municipal de Alcanena, realizou-se uma conferência, dinamizada pelo Bloco de Esquerda, sobre a poluição em Alcanena.
Esta sessão reuniu um grupo de ‘preocupados’, que primeiramente ouviram as exposições de especialistas sobre o assunto e, no final, trocaram experiências e pontos de vista, baseados na própria vivência, bem como em conhecimentos técnicos e científicos.
Ficou bem patente que se trata de um grave problema de há muito sentido, mas também desvalorizado, do qual até ao momento não se conhecem as verdadeiras implicações para a saúde pública, mas que transtorna a vida de todos os que vivem e trabalham no concelho, tornando desagradável e doentio o seu dia a dia.
Ficou também claro que o Bloco de Esquerda, aliado desta causa, não abandonará a luta, que será levada até onde os direitos das pessoas o exigirem.

Comunicado de Imprensa

Leia em baixo o Comunicado de Imprensa de 3 de Dezembro do Bloco de Esquerda em Alcanena.

Clique aqui para ler

Reclamamos o DIREITO A RESPIRAR

Bloco de Esquerda continua na senda de uma solução para o grave problema de poluição ambiental em Alcanena



Na passada sexta-feira, dia doze de Novembro, uma delegação, composta pelo Deputado do Bloco de Esquerda pelo Distrito de Santarém, José Gusmão, e mais dois elementos do Bloco, foi recebida pela administração da Austra, no sentido de esclarecer alguns pontos relativos ao funcionamento da ETAR e à poluição que de há muito tem afectado Alcanena, com acrescida intensidade nos últimos tempos.

O Bloco de Esquerda apresentou já um requerimento ao Ministério do Ambiente, aguardando resposta.

Após a reunião com a administração da Austra, realizou-se na Sede do Bloco em Alcanena uma Conferência de Imprensa para fazer o ponto da situação.

Da auscultação da Austra, ficou claro para o Bloco de Esquerda que a ETAR de Alcanena não reúne as condições minimamente exigíveis, quer do ponto de vista do cumprimento da lei, quer da garantia de índices de qualidade do ar compatíveis com a saúde pública e o bem estar das populações.

A delegação do Bloco de Esquerda obteve do presidente da Austra o compromisso da realização de operações de monitorização da qualidade do ar em Alcanena, a realizar o mais tardar em Janeiro. De qualquer forma, o Bloco de Esquerda envidará esforços para que essa monitorização ocorra de forma imediata.

Embora existam planos para a total requalificação dos sistemas de despoluição, registamos com preocupação a incerteza sobre os financiamentos, quer nacional quer comunitário. O Bloco de Esquerda opor-se-á a que estes investimentos possam ser comprometidos por restrições orçamentais, e exigirá junto do Governo garantias a este respeito.

A participação popular foi e continuará a ser um factor decisivo para o acompanhamento e controlo da efectiva resolução do problema da qualidade do ar em Alcanena.

No âmbito da visita do Deputado do Bloco de Esquerda, José Gusmão, ao Concelho de Alcanena, realizou-se um jantar-convívio no Restaurante Mula Russa em Alcanena, ocasião também aproveitada para dialogar sobre assuntos inerentes ao Concelho. Mais tarde, José Gusmão, conviveu com um grupo de jovens simpatizantes num bar deste concelho.

No sábado, dia treze de Novembro, José Gusmão e outros elementos do Bloco de Esquerda estiveram em Minde, no Mercado Municipal, distribuindo jornais do Bloco, ouvindo e conversando com as pessoas.

Neste mesmo dia, junto ao Intermarché de Alcanena, José Gusmão contactou com as pessoas e entregou jornais do Bloco de Esquerda.

Num almoço realizado em Minde, no Restaurante Vedor, com um grupo de aderentes e simpatizantes do Bloco, houve mais uma vez oportunidade para ouvir opiniões, experiências e expectativas, bem como de exprimir pontos de vista.

O Bloco de Esquerda continuará a luta por um direito que parece ser inerente à própria condição humana, mas que vem sendo negado às pessoas que vivem e trabalham em Alcanena – o direito de respirar ar “respirável” e de não ser posta em causa a sua saúde.


A Coordenadora do Bloco de Esquerda de Alcanena

Poluição em Alcanena: Requerimento à Assembleia da República

Pessoas esclarecidas conhecem o seu direito de respirar ar puro e lutam pela sua reconquista já que alguns até isto usurparam.

O Bloco de Esquerda encetou a luta pela despoluição de Alcanena na legislatura anterior e continuará a manifestar-se e a rebelar-se contra esta desagradável e injusta situação até que no nosso concelho possamos respirar de novo.


Veja aqui Requerimento apresentado pelo BE quanto à questão da poluição em Alcanena

Carta à AUSTRA

Carta entregue pelo grupo de cidadãos "Chega de mau cheiro em Alcanena" ao Presidente da Austra e Presidente da Câmara Municipal de Alcanena

INAUGURAÇÃO DA SEDE DO BLOCO DE ESQUERDA EM ALCANENA

Francisco Louçã inaugurou no passado domingo, dia 31 de Outubro, a Sede do Bloco de Esquerda em Alcanena. Na inauguração esteve também representada a Coordenação Distrital do Partido; estiveram presentes aderentes e convidados. Esta ocasião especial foi uma oportunidade de convívio, acompanhada de um pequeno beberete.
Francisco Louçã falou, como sempre, de forma clara e apelativa, abordando a actual situação crítica do país,apontando as razões, propondo alternativas e caminhos.
Baseando-se no Socialismo Democrático, o Bloco de Esquerda tem sido sempre activo na defesa dos valores da verdadeira Democracia, e propõe-se continuar essa luta. Esta nova Sede é mais um ponto de encontro, de trabalho, de partilha de pontos de vista e de tomada de iniciativas, possibilitando que se ouçam as vozes de todas as pessoas e transmitindo os seus problemas e expectativas.
Trata-se de um pequeno espaço, que representa uma grande vontade de mudança e que espera contar com a presença de todos os que partilhem os ideais de um concelho mais próspero, de uma sociedade mais justa e equilibrada, de um país realmente mais avançado.