segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Pobreza, Assistencialismo e Estado Social


Nesta entrevista ao esquerda.net, Eduardo José Rodrigues fala na desejada dimensão pública e universal das políticas sociais, no “frenesim fiscal” sobre as prestações sociais, na campanha de estigmatização de algumas medidas de política social e da criação de uma prestação social única.
Considera que, em Portugal, se aposta na dimensão pública e universal das políticas sociais em Portugal?
A dimensão pública das políticas sociais tem sido mais um objectivo do que propriamente uma concretização, uma prática, fruto quer dos nossos antecedentes históricos, que deram pouca relevância ao objectivo de construção de um Estado Providência como objectivo final, quer fruto de algumas condições sócio económicas do momento em que iniciámos esse trajecto de construção de algumas respostas sociais. Tendemos a assumir que a dimensão pública pode ser substituída por lógicas de compromisso público-privadas, sejam elas com a Igreja, com as misericórdias em geral, ou até mesmo com algumas respostas de carácter efectivamente privado, e, mais recentemente, o retorno do discurso da família como locos das respostas de política pública. Claro que, sendo todos estes elementos fundamentais, não podem retirar o carácter central de participação do Estado porque só este, Estado, é que responde, de forma efectiva, ao carácter universal que deve estar subjacente às políticas públicas.
Considera que o “frenesim da confirmação fiscal” no que respeita às prestações sociais, é justificado e adequado?
Este “frenesim” parece-me ser uma resposta de âmbito meramente político àquilo que é uma representação social relativamente abrangente que olha para as políticas sociais como o locos da fraude. E, portanto, quer a partir da condição de recursos, quer a partir, mais recentemente, dos benefícios resultantes da averiguação fiscal da situação contributiva dos indivíduos acabam por tornar as políticas públicas em instrumentos complementares aos rendimentos, às remunerações dos próprios sujeitos. Ora isto se, em alguns domínios, tem toda a razoabilidade, noutros, não faz sentido nenhum e cria uma pressão enorme sobre as classes médias, que são, ao mesmo tempo, aquelas que mais contribuem por via dos impostos para o orçamento social público, mas são também aquelas que, exactamente por esse lado do frenesim da lógica fiscal nos benefícios, aquelas que tradicionalmente menos recebem. Cria-se aqui, portanto, um sentimento de injustiça, de iniquidade, e até alguma exterioridade relativamente às próprias políticas sociais por parte das classes médias. Gera depois um segundo aspecto que não é de menor importância, que é uma relativa rejeição que começa a existir relativamente às políticas mas, mais do que isso, relativamente aos beneficiários das políticas, todos englobados naquela ideia de gente fraudulenta e que só recebe por artifícios da própria existência.
Quais são os efeitos da campanha de estigmatização promovida contra algumas prestações sociais, como o RSI, e contra os seus beneficiários?
É possível averiguar algumas de carácter genérico e depois concretizar em algumas consequências muito práticas no dia-a-dia da vida dos cidadãos, nomeadamente dos cidadãos beneficiários das políticas públicas. É evidente que, de uma forma genérica, as políticas sociais, quando são representadas negativamente, reproduzem factores de estigmatização, factores de vergonha social, factores de desvalorização identitária nos indivíduos e isso, em si mesmo, já são consequências particularmente graves. Mas depois isso tem tradução no dia-a-dia dos cidadãos. Não é à toa que, em Portugal, nós assistimos a um tempo de espera entre o início da necessidade de uma medida de política pública, como por exemplo, o rendimento social de inserção, e a candidatura à medida de política pública efectivamente feita, que é um tempo excessivo, de cinco a seis meses, que significa, não apenas um tempo de espera, um tempo de acomodação à ideia de benefício como único reduto da sobrevivência, mas ao mesmo tempo, de digestão desta vergonha social, deste estigma incorporado com aquilo que é efectiva necessidade. Não estamos, portanto, apenas perante factores subjectivos genéricos mas estamos também consequências muito práticas que incentivam o aumento da vulnerabilidade do indivíduo. Aumentam as identidades desvalorizadas, aumenta a auto-estima reduzida, mas aumenta também a dívida ao talho, a dívida ao supermercado, gerando-se aqui a espécie de bola de neve que, na realidade, é muito produzida por este tempo excessivamente longo que medeia entre a necessidade e a candidatura e que, repito, resulta desta apreensão, desta apropriação negativa das próprias políticas sociais.
Considera necessária uma reconfiguração e maior articulação das prestações sociais ou, até mesmo, a criação de uma prestação social única?
Em países com uma economia informal forte, como existe em Portugal, com valores que não só são particularmente evidentes da informalidade do mercado de trabalho e da actividade económica, mas são também evidentes da forma como isso se repercute na redução da receita do Estado, todos os modelos que visem retirar as medidas de política pública da relação salarial são modelos interessantes. E porquê? Porque isso permite, para já, projectar nos indivíduos mecanismos de maior justiça, de maior eficiência, e permite dar ao Estado um papel menos caritativo, menos assistencialista, e, portanto, invocar quer a noção de direitos, quer a noção de universalidade das prestações. Claro que a prestação única está associada a um conjunto de problemas que têm que ser ultrapassados, nomeadamente em países como Portugal onde a economia informal resultante da actividade económica de gente mais enriquecida, a actividade especulativa, está pouco apanhada pelas malhas fiscais. O que poderia acontecer é exactamente aquilo que acontece em qualquer uma das medida que tem condição de recursos, que é termos gente que, na verdade, não necessitaria, mas que por ter remunerações ainda pouco evidentes à luz do fisco acabariam por beneficiar, criando aqui mais uma vez a ideia de fraude e a ideia de injustiça. A prestação única tem que compatibilizar-se com um efectivo instrumento que permita apanhar a multiplicidade de formas de rendimentos não apanhadas hoje em dia. Agora, de um ponto de vista abstracto, conceptual até, é o caminho. Sobretudo é o caminho para evitar esta pulverização de medidas, algumas das quais sediadas em ministérios e em serviços completamente diferentes e que, na verdade, têm sequência da vida dos indivíduos, mas não têm nenhuma sequência do ponto de vista institucional. Era, por isso, a forma correcta de garantir esta continuidade institucional e esta relação com a justiça e com a universalidade, se forem salvaguardados os perigos que enunciei, naturalmente.       

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Comunicado do Bloco de Esquerda sobre a Escola EB2,3 de Minde

Consulte no link abaixo:

Requerimento ao Secretário de Estado do Ambiente

Bloco requereu a vinda do Secretário de Estado do Ambiente

à AR para esclarecer funcionamento da ETAR de Alcanena

O deficiente funcionamento da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena, com mais de 20 anos, tem sido extremamente penalizador para a qualidade de vida e saúde pública das populações deste concelho, além de ser responsável pela poluição de recursos hídricos e solos.

Esta ETAR, destinada a tratar os efluentes da indústria de curtumes, foi desde a sua origem mal concebida, a começar por se situar em leito de cheia. Desde então os problemas são conhecidos e persistem: maus cheiros intensos; incumprimento regular dos valores-limite estabelecidos para o azoto e CQO das descargas de efluente tratado em meio hídrico; célula de lamas não estabilizadas, com deficiente selagem e drenagem de lixiviados e biogás; redes de saneamento corroídas, com fugas de efluentes não tratados para o ambiente; saturação da ETAR devido a escoamento das águas pluviais ser feita nas redes de saneamento.

Desde há muito que estes problemas são conhecidos e nada justifica, ainda mais com todo o avanço tecnológico existente ao nível do funcionamento das ETAR, que se chegue ao final de 2010 com esta situação. E pior se compreende quando é o próprio Ministério do Ambiente a constatar que gastou ao longo dos anos cerca de 50 milhões de euros para tentar responder a estes problemas.

Em Junho de 2009 foi assinado um protocolo para a reabilitação do sistema de tratamento de águas residuais de Alcanena pela ARH Tejo, o INAG, a Câmara Municipal e a AUSTRA (gestora da ETAR), com investimentos na ordem dos 21 milhões de euros de comparticipação comunitária.

Este protocolo inclui cinco projectos, os mais importantes dos quais com prazo final apenas em 2013, o que significa arrastar os principais problemas identificados até esta data. Como os prazos de início dos estudos destes projectos já sofreram uma derrapagem, dúvidas se colocam sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos, ainda mais quando não há certezas sobre a disponibilização de verbas nacionais para co-financiar os projectos, tendo em conta o contexto de contenção actual.

Considerando a gravidade dos problemas causados pela ETAR de Alcanena para as populações e o ambiente, o deputado José Gusmão e a deputada Rita Calvário do Bloco de Esquerda solicitam uma audiência com o Secretário de Estado do Ambiente, com a finalidade de obter esclarecimentos sobre os investimentos previstos para a reabilitação do sistema de tratamento, as soluções escolhidas, o cumprimento de prazos, e as garantias que os mesmos oferecem para resolver o passivo ambiental existente, os focos de contaminação dos recursos hídricos e solo, os maus cheiros e qualidade do ar respirado pelas populações deste concelho. Seria de todo útil que o presidente ou representantes da ARH-Tejo estivessem presentes nesta audiência.

Lisboa, 17 de Dezembro de 2010.

A Deputada O Deputado

Rita Calvário José Gusmão

Direito a não respirar “podre” – SIM ou NÃO?





No passado domingo, dia 12 de Dezembro, no Auditório Municipal de Alcanena, realizou-se uma conferência, dinamizada pelo Bloco de Esquerda, sobre a poluição em Alcanena.
Esta sessão reuniu um grupo de ‘preocupados’, que primeiramente ouviram as exposições de especialistas sobre o assunto e, no final, trocaram experiências e pontos de vista, baseados na própria vivência, bem como em conhecimentos técnicos e científicos.
Ficou bem patente que se trata de um grave problema de há muito sentido, mas também desvalorizado, do qual até ao momento não se conhecem as verdadeiras implicações para a saúde pública, mas que transtorna a vida de todos os que vivem e trabalham no concelho, tornando desagradável e doentio o seu dia a dia.
Ficou também claro que o Bloco de Esquerda, aliado desta causa, não abandonará a luta, que será levada até onde os direitos das pessoas o exigirem.

Comunicado de Imprensa

Leia em baixo o Comunicado de Imprensa de 3 de Dezembro do Bloco de Esquerda em Alcanena.

Clique aqui para ler

Reclamamos o DIREITO A RESPIRAR

Bloco de Esquerda continua na senda de uma solução para o grave problema de poluição ambiental em Alcanena



Na passada sexta-feira, dia doze de Novembro, uma delegação, composta pelo Deputado do Bloco de Esquerda pelo Distrito de Santarém, José Gusmão, e mais dois elementos do Bloco, foi recebida pela administração da Austra, no sentido de esclarecer alguns pontos relativos ao funcionamento da ETAR e à poluição que de há muito tem afectado Alcanena, com acrescida intensidade nos últimos tempos.

O Bloco de Esquerda apresentou já um requerimento ao Ministério do Ambiente, aguardando resposta.

Após a reunião com a administração da Austra, realizou-se na Sede do Bloco em Alcanena uma Conferência de Imprensa para fazer o ponto da situação.

Da auscultação da Austra, ficou claro para o Bloco de Esquerda que a ETAR de Alcanena não reúne as condições minimamente exigíveis, quer do ponto de vista do cumprimento da lei, quer da garantia de índices de qualidade do ar compatíveis com a saúde pública e o bem estar das populações.

A delegação do Bloco de Esquerda obteve do presidente da Austra o compromisso da realização de operações de monitorização da qualidade do ar em Alcanena, a realizar o mais tardar em Janeiro. De qualquer forma, o Bloco de Esquerda envidará esforços para que essa monitorização ocorra de forma imediata.

Embora existam planos para a total requalificação dos sistemas de despoluição, registamos com preocupação a incerteza sobre os financiamentos, quer nacional quer comunitário. O Bloco de Esquerda opor-se-á a que estes investimentos possam ser comprometidos por restrições orçamentais, e exigirá junto do Governo garantias a este respeito.

A participação popular foi e continuará a ser um factor decisivo para o acompanhamento e controlo da efectiva resolução do problema da qualidade do ar em Alcanena.

No âmbito da visita do Deputado do Bloco de Esquerda, José Gusmão, ao Concelho de Alcanena, realizou-se um jantar-convívio no Restaurante Mula Russa em Alcanena, ocasião também aproveitada para dialogar sobre assuntos inerentes ao Concelho. Mais tarde, José Gusmão, conviveu com um grupo de jovens simpatizantes num bar deste concelho.

No sábado, dia treze de Novembro, José Gusmão e outros elementos do Bloco de Esquerda estiveram em Minde, no Mercado Municipal, distribuindo jornais do Bloco, ouvindo e conversando com as pessoas.

Neste mesmo dia, junto ao Intermarché de Alcanena, José Gusmão contactou com as pessoas e entregou jornais do Bloco de Esquerda.

Num almoço realizado em Minde, no Restaurante Vedor, com um grupo de aderentes e simpatizantes do Bloco, houve mais uma vez oportunidade para ouvir opiniões, experiências e expectativas, bem como de exprimir pontos de vista.

O Bloco de Esquerda continuará a luta por um direito que parece ser inerente à própria condição humana, mas que vem sendo negado às pessoas que vivem e trabalham em Alcanena – o direito de respirar ar “respirável” e de não ser posta em causa a sua saúde.


A Coordenadora do Bloco de Esquerda de Alcanena

Poluição em Alcanena: Requerimento à Assembleia da República

Pessoas esclarecidas conhecem o seu direito de respirar ar puro e lutam pela sua reconquista já que alguns até isto usurparam.

O Bloco de Esquerda encetou a luta pela despoluição de Alcanena na legislatura anterior e continuará a manifestar-se e a rebelar-se contra esta desagradável e injusta situação até que no nosso concelho possamos respirar de novo.


Veja aqui Requerimento apresentado pelo BE quanto à questão da poluição em Alcanena

Carta à AUSTRA

Carta entregue pelo grupo de cidadãos "Chega de mau cheiro em Alcanena" ao Presidente da Austra e Presidente da Câmara Municipal de Alcanena

INAUGURAÇÃO DA SEDE DO BLOCO DE ESQUERDA EM ALCANENA

Francisco Louçã inaugurou no passado domingo, dia 31 de Outubro, a Sede do Bloco de Esquerda em Alcanena. Na inauguração esteve também representada a Coordenação Distrital do Partido; estiveram presentes aderentes e convidados. Esta ocasião especial foi uma oportunidade de convívio, acompanhada de um pequeno beberete.
Francisco Louçã falou, como sempre, de forma clara e apelativa, abordando a actual situação crítica do país,apontando as razões, propondo alternativas e caminhos.
Baseando-se no Socialismo Democrático, o Bloco de Esquerda tem sido sempre activo na defesa dos valores da verdadeira Democracia, e propõe-se continuar essa luta. Esta nova Sede é mais um ponto de encontro, de trabalho, de partilha de pontos de vista e de tomada de iniciativas, possibilitando que se ouçam as vozes de todas as pessoas e transmitindo os seus problemas e expectativas.
Trata-se de um pequeno espaço, que representa uma grande vontade de mudança e que espera contar com a presença de todos os que partilhem os ideais de um concelho mais próspero, de uma sociedade mais justa e equilibrada, de um país realmente mais avançado.