terça-feira, 23 de agosto de 2011

País


Este é hoje um país ameaçado, torcido, mal amado. Teoricamente europeu, teoricamente independente.
País silêncio. País de passado colonial com aroma a café. País tristonho. País melancolia.
Muito de vez em quando o país parece animar-se com qualquer coisa. Ou é um campeonato de futebol, ou um casamento real, ou um pequeno escândalo, devidamente ampliado pelos media. Mas são minúsculos fogachos num dia a dia sem história. Ou melhor, com muita história, ainda que ela pareça invisível, sem o brio e sem o garbo que os grandes acontecimentos sempre lhe emprestam.
O dia a dia sem história contém toda a História de uma derrota declarada.

A História às vezes apanha-nos desprevenidos. Para o bem e para o mal. Enigmática é preciso prestar-lhe sempre grande atenção, porque tem tanto de caprichosa como de generosa. De vez em quando é cruel. Em cavalgadas ferozes pode atropelar-nos, se nos apanha distraídos. Fica, então, imparável e perigosa. A História. Ser alvo de um atropelamento da História faz de nós criaturas mínimas, sem segurança ou protecção.
O renovado pensamento neoliberal percebeu isso. E por isso mesmo colocou sentinelas um pouco por toda a parte. Sentinelas que nos adormecem, cheias de recursos narcóticos, o lixo mediático a entrar-nos em casa, e nós pimba, sossegados, sem acção, amortecidos. Mais. A declinar um discurso coincidente com o lixo que nos cederam para nele chafurdarmos à vontade.

Há, hoje, uma espécie de ansiedade da História, uma agonia, um mau pressentimento, uma vontade de ultrapassar esta época maldita de forma a evitar repetições de má memória. Por isso mesmo a História como que pede aos povos uma ajuda definitiva e possante, como que faz um apelo, como que sopra uma prece para evitar o destroço.
Pede sobretudo para ser contada, para que os ecos de um passado igualmente maldito cheguem até nós e nos alertem para o que perdemos e, principalmente, para o que ainda podemos ganhar.

A História é assim. Pode ter um bafo quente e feliz, bailar connosco alegremente a dança do futuro. Nessas alturas a História é uma gota de vinho, uma nota de música, um acorde de jazz, um piano suplicante no delírio de uma noite de amor. A música líquida amacia-nos o olhar, os anos rolam, esfregam-se por nós com afecto para que lhes demos alma, lhes façamos uma festa.
A história é tudo isto. É vida vivida. É vida que se quis viver e se viveu.
Pode ser também, com inquietante simetria, o contrário disto tudo.

O tempo histórico está agora na mó de baixo.
Porque este é o tempo de uma derrota proclamada, o tempo em que as hienas riem.

Este é hoje um país fechado para obras.
Este é o país que tem mar e não tem pescas. Este é o país que tem campo e não tem agricultura. Este é o país que correu com o Cavaco, o país que foi traficado até à medula pelo cavaquismo, e depois elegeu o mesmo Cavaco para presidente da república. Este é um país que deu férias à vergonha, que foi enganado e no engano se enganou, para votar naqueles que mais o haviam de enganar. Este é o país dos enganos.

Este é um país que vai ouvindo as saloiadas económicas dos Césares das Neves, Duques e quejandos, muito tensos, muito graves, a clamar pelo açoite, pelo azorrague, convocando carrascos, fantasmas e corsários. Sentinelas.
Este é hoje um país ameaçado, torcido, mal amado. Teoricamente europeu, teoricamente independente. Um país que acertou finalmente o passo com a Europa, quando a Europa deixou de ser Europa e passou a ser uma cláusula contratual de um pacto assinado por um tipo menor que dá pelo nome de Sarkozy e por uma soberana, resto de colecção da finada burocracia alemã oriental.
Troikas e outros flagelos percorrem-lhe os caminhos, invadindo-o, intrusivos e violentos. As armas de que dispõem, não são metralhadoras, nem sequer se pressentem as sirenes a anunciar bombardeamentos e a indicar abrigos. As bombas que agora usam são os memorandos assinados com canetas caras, são os acordos de privatizações sonhadas, são a venda a retalho dos nossos direitos. Todo um arsenal de combate, a que acresce a indecência de todos os BPN que por aí andam. Em suma, as explosões que agora conhecemos vêm mascaradas de dinamite económico. Assistimos impávidos ao deflagrar de grandes cogumelos de cortes e medidas. São bombas técnicas, financeiras, orçamentais, são as bombas do neoliberalismo quase cadáver, que já deu cabo de metade do mundo e se vencer, há-se dar cabo da outra metade. Possivelmente, se nada se fizer, só então implodirá.
Este é o país em que os actuais governantes nos querem transformar a vida num deserto e quanto mais água bebem mais sedentos ficam.
País de marés baixas. Tão baixas que os navios que queremos levar por diante encalham nos baixios.
País com sol, um sol molengão, a aquecer as tardes de desemprego. País com luz, uma luz íntima, que destapa misérias. País colmeia, com arrabaldes cada vez mais inactivos, envelhecidos e abandonados. País caçado, apanhado na rede, na armadilha, com a impiedade que o caçador sempre empresta ao sacrifício.
País mutilado, refém dos caprichos de agências, dos ratings de criminosos, das manhas da banca. País dependente e esquivo.
País calmo, tenso como uma lâmina empunhada em desespero, ou um caco de vidro agarrado numa rixa.
Este é o país que elegeu recentemente um governo de vão de escada e tem um Presidente da República que é um ministro sem pasta da acção governativa.

Este é o país que vive um Verão inquieto, retesado, que mais não faz que preparar uma perigosa aventura de Outono, em que a direita porá em prática tudo o que já aprovou.
Este é o Verão em que o BPN voltou ao seu ponto de origem cavaquista. A sordidez arruinada dos seus negócios foi colectivizada. Faz, neste Agosto dolente, parte da nossa vida.
Este é o Verão em que agências financeiras baixaram a cotação dos donos do mundo, provocando desassossego, apreensão, ansiedade, tudo sentimentos que se podem de um momento para o outro transformar em histeria com as consequências brutais que os ataques de pânico sempre têm em momentos de perturbação.
Na grande arena da especulação mundial as agências vestidas de matador pretendem a estocada final dada a preceito. Lantejoulas de números hão-de brilhar nos fatos que os relatórios hão-de vestir. Beberão champanhe na mesma taça em que o veneno nos é servido.

Horas selvagens aquelas que agora correm. Formamos um rebanho, um enxame, uma massa de esbulhados, de despojados de direitos que há muito nos pertenciam. Quando ousamos dizer isto, olham para nós em fúria e dizem-nos que foram precisamente esses direitos que provocaram a crise. Foi o nosso subsídio de desemprego de 400 euros que foi delinquente; foi o acesso a cuidados de saúde e a escola pública dos nossos filhos que tiveram a culpa; que bandidos e irresponsáveis fomos, que mania das grandezas tivemos, querer ter um carro para quê, com transportes públicos tão baratos, tão eficazes como os que agora temos, querer ter uma casa para quê com um mercado de arrendamento tão generoso…
Este é o país que tem ministros doutorados em violência económica e na veemência do tem de ser. Ministros – soldados com alma acrílica, e erros gramaticais.
Há meses, essa mesma gente deixava ficar na caixa do correio panfletos com créditos para a aquisição dos sonhos de plástico que outros como eles, ou eles próprios, nos vendiam. Telefonavam, insistiam, mesureiros e activos, quase imploravam que contraíssemos uma dívida. O apelo que faziam, um apelo cientificamente eficaz, propunha-nos a felicidade em prestações. Propunha-nos a satisfação momentânea de um consumo e a letras pequenas a amargura da perenidade do sofrimento.
Agora, quem quer que se esfole para pagar a prestação da fracção em propriedade horizontal situada num qualquer subúrbio mal amanhado, com infiltrações na casa de banho ou na cozinha, ou tenha um carro esfomeado por gasolina, é suspeito de ter sido o responsável por esta crise.
País menor.
País mercadoria.

E, no entanto, este é o país em que pode parecer que o céu está claro, descorado por nuvens leitosas e mansas, e de repente, este é o país em que aparece um relâmpago que se abre em trovoadas súbitas e tempestades bravias.
Nessa altura, este será o país que há-de cobrar com juros, em puro anatocismo*, o défice de alegria e o luto que agora vive.


* Juros de juros


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Comunicado do Bloco de Esquerda sobre a Escola EB2,3 de Minde

Consulte no link abaixo:

Requerimento ao Secretário de Estado do Ambiente

Bloco requereu a vinda do Secretário de Estado do Ambiente

à AR para esclarecer funcionamento da ETAR de Alcanena

O deficiente funcionamento da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena, com mais de 20 anos, tem sido extremamente penalizador para a qualidade de vida e saúde pública das populações deste concelho, além de ser responsável pela poluição de recursos hídricos e solos.

Esta ETAR, destinada a tratar os efluentes da indústria de curtumes, foi desde a sua origem mal concebida, a começar por se situar em leito de cheia. Desde então os problemas são conhecidos e persistem: maus cheiros intensos; incumprimento regular dos valores-limite estabelecidos para o azoto e CQO das descargas de efluente tratado em meio hídrico; célula de lamas não estabilizadas, com deficiente selagem e drenagem de lixiviados e biogás; redes de saneamento corroídas, com fugas de efluentes não tratados para o ambiente; saturação da ETAR devido a escoamento das águas pluviais ser feita nas redes de saneamento.

Desde há muito que estes problemas são conhecidos e nada justifica, ainda mais com todo o avanço tecnológico existente ao nível do funcionamento das ETAR, que se chegue ao final de 2010 com esta situação. E pior se compreende quando é o próprio Ministério do Ambiente a constatar que gastou ao longo dos anos cerca de 50 milhões de euros para tentar responder a estes problemas.

Em Junho de 2009 foi assinado um protocolo para a reabilitação do sistema de tratamento de águas residuais de Alcanena pela ARH Tejo, o INAG, a Câmara Municipal e a AUSTRA (gestora da ETAR), com investimentos na ordem dos 21 milhões de euros de comparticipação comunitária.

Este protocolo inclui cinco projectos, os mais importantes dos quais com prazo final apenas em 2013, o que significa arrastar os principais problemas identificados até esta data. Como os prazos de início dos estudos destes projectos já sofreram uma derrapagem, dúvidas se colocam sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos, ainda mais quando não há certezas sobre a disponibilização de verbas nacionais para co-financiar os projectos, tendo em conta o contexto de contenção actual.

Considerando a gravidade dos problemas causados pela ETAR de Alcanena para as populações e o ambiente, o deputado José Gusmão e a deputada Rita Calvário do Bloco de Esquerda solicitam uma audiência com o Secretário de Estado do Ambiente, com a finalidade de obter esclarecimentos sobre os investimentos previstos para a reabilitação do sistema de tratamento, as soluções escolhidas, o cumprimento de prazos, e as garantias que os mesmos oferecem para resolver o passivo ambiental existente, os focos de contaminação dos recursos hídricos e solo, os maus cheiros e qualidade do ar respirado pelas populações deste concelho. Seria de todo útil que o presidente ou representantes da ARH-Tejo estivessem presentes nesta audiência.

Lisboa, 17 de Dezembro de 2010.

A Deputada O Deputado

Rita Calvário José Gusmão

Direito a não respirar “podre” – SIM ou NÃO?





No passado domingo, dia 12 de Dezembro, no Auditório Municipal de Alcanena, realizou-se uma conferência, dinamizada pelo Bloco de Esquerda, sobre a poluição em Alcanena.
Esta sessão reuniu um grupo de ‘preocupados’, que primeiramente ouviram as exposições de especialistas sobre o assunto e, no final, trocaram experiências e pontos de vista, baseados na própria vivência, bem como em conhecimentos técnicos e científicos.
Ficou bem patente que se trata de um grave problema de há muito sentido, mas também desvalorizado, do qual até ao momento não se conhecem as verdadeiras implicações para a saúde pública, mas que transtorna a vida de todos os que vivem e trabalham no concelho, tornando desagradável e doentio o seu dia a dia.
Ficou também claro que o Bloco de Esquerda, aliado desta causa, não abandonará a luta, que será levada até onde os direitos das pessoas o exigirem.

Comunicado de Imprensa

Leia em baixo o Comunicado de Imprensa de 3 de Dezembro do Bloco de Esquerda em Alcanena.

Clique aqui para ler

Reclamamos o DIREITO A RESPIRAR

Bloco de Esquerda continua na senda de uma solução para o grave problema de poluição ambiental em Alcanena



Na passada sexta-feira, dia doze de Novembro, uma delegação, composta pelo Deputado do Bloco de Esquerda pelo Distrito de Santarém, José Gusmão, e mais dois elementos do Bloco, foi recebida pela administração da Austra, no sentido de esclarecer alguns pontos relativos ao funcionamento da ETAR e à poluição que de há muito tem afectado Alcanena, com acrescida intensidade nos últimos tempos.

O Bloco de Esquerda apresentou já um requerimento ao Ministério do Ambiente, aguardando resposta.

Após a reunião com a administração da Austra, realizou-se na Sede do Bloco em Alcanena uma Conferência de Imprensa para fazer o ponto da situação.

Da auscultação da Austra, ficou claro para o Bloco de Esquerda que a ETAR de Alcanena não reúne as condições minimamente exigíveis, quer do ponto de vista do cumprimento da lei, quer da garantia de índices de qualidade do ar compatíveis com a saúde pública e o bem estar das populações.

A delegação do Bloco de Esquerda obteve do presidente da Austra o compromisso da realização de operações de monitorização da qualidade do ar em Alcanena, a realizar o mais tardar em Janeiro. De qualquer forma, o Bloco de Esquerda envidará esforços para que essa monitorização ocorra de forma imediata.

Embora existam planos para a total requalificação dos sistemas de despoluição, registamos com preocupação a incerteza sobre os financiamentos, quer nacional quer comunitário. O Bloco de Esquerda opor-se-á a que estes investimentos possam ser comprometidos por restrições orçamentais, e exigirá junto do Governo garantias a este respeito.

A participação popular foi e continuará a ser um factor decisivo para o acompanhamento e controlo da efectiva resolução do problema da qualidade do ar em Alcanena.

No âmbito da visita do Deputado do Bloco de Esquerda, José Gusmão, ao Concelho de Alcanena, realizou-se um jantar-convívio no Restaurante Mula Russa em Alcanena, ocasião também aproveitada para dialogar sobre assuntos inerentes ao Concelho. Mais tarde, José Gusmão, conviveu com um grupo de jovens simpatizantes num bar deste concelho.

No sábado, dia treze de Novembro, José Gusmão e outros elementos do Bloco de Esquerda estiveram em Minde, no Mercado Municipal, distribuindo jornais do Bloco, ouvindo e conversando com as pessoas.

Neste mesmo dia, junto ao Intermarché de Alcanena, José Gusmão contactou com as pessoas e entregou jornais do Bloco de Esquerda.

Num almoço realizado em Minde, no Restaurante Vedor, com um grupo de aderentes e simpatizantes do Bloco, houve mais uma vez oportunidade para ouvir opiniões, experiências e expectativas, bem como de exprimir pontos de vista.

O Bloco de Esquerda continuará a luta por um direito que parece ser inerente à própria condição humana, mas que vem sendo negado às pessoas que vivem e trabalham em Alcanena – o direito de respirar ar “respirável” e de não ser posta em causa a sua saúde.


A Coordenadora do Bloco de Esquerda de Alcanena

Poluição em Alcanena: Requerimento à Assembleia da República

Pessoas esclarecidas conhecem o seu direito de respirar ar puro e lutam pela sua reconquista já que alguns até isto usurparam.

O Bloco de Esquerda encetou a luta pela despoluição de Alcanena na legislatura anterior e continuará a manifestar-se e a rebelar-se contra esta desagradável e injusta situação até que no nosso concelho possamos respirar de novo.


Veja aqui Requerimento apresentado pelo BE quanto à questão da poluição em Alcanena

Carta à AUSTRA

Carta entregue pelo grupo de cidadãos "Chega de mau cheiro em Alcanena" ao Presidente da Austra e Presidente da Câmara Municipal de Alcanena

INAUGURAÇÃO DA SEDE DO BLOCO DE ESQUERDA EM ALCANENA

Francisco Louçã inaugurou no passado domingo, dia 31 de Outubro, a Sede do Bloco de Esquerda em Alcanena. Na inauguração esteve também representada a Coordenação Distrital do Partido; estiveram presentes aderentes e convidados. Esta ocasião especial foi uma oportunidade de convívio, acompanhada de um pequeno beberete.
Francisco Louçã falou, como sempre, de forma clara e apelativa, abordando a actual situação crítica do país,apontando as razões, propondo alternativas e caminhos.
Baseando-se no Socialismo Democrático, o Bloco de Esquerda tem sido sempre activo na defesa dos valores da verdadeira Democracia, e propõe-se continuar essa luta. Esta nova Sede é mais um ponto de encontro, de trabalho, de partilha de pontos de vista e de tomada de iniciativas, possibilitando que se ouçam as vozes de todas as pessoas e transmitindo os seus problemas e expectativas.
Trata-se de um pequeno espaço, que representa uma grande vontade de mudança e que espera contar com a presença de todos os que partilhem os ideais de um concelho mais próspero, de uma sociedade mais justa e equilibrada, de um país realmente mais avançado.