sexta-feira, 30 de julho de 2010

A riqueza escondida das nossas florestas

A incúria dos sucessivos governos tem levado a que este riquíssimo património se esvaia a um ritmo alucinante, à medida que o abandono das terras permite a sua destruição por incêndios.
A relação de Portugal com a sua floresta é paradoxal. Por um lado, a floresta assume uma enorme importância em termos sociais, ambientais e económicos, cobrindo 38% do território nacional e representando cerca de 3% do PIB e 10% das exportações. Por outro, a incúria dos sucessivos governos tem levado a que este riquíssimo património se esvaia a um ritmo alucinante, à medida que o abandono das terras permite a sua destruição por incêndios.
Uma bomba-relógio
O regime fascista e ruralista de Salazar via na introdução de espécies exóticas, tais como o eucalipto e o pinheiro-bravo, um motor para o progresso e para o desenvolvimento rural. Foi sobretudo a partir dos anos 60 que decidiu investir na plantação massiva de eucaliptos para a produção de pasta de papel. O resultado foi o abandono de terras e a criação de condições propícias ao avanço do fogo.
A expansão das monoculturas industriais em Portugal foi de tal forma avassaladora que hoje pouco mais de 10% da área de povoamentos florestais é composta por árvores autóctones, como o castanheiro e as várias espécies de carvalho. Como consequência da expansão dos eucaliptais, muitas terras tornaram-se improdutivas e muitos dos nichos de biodiversidade que ainda existiam foram desaparecendo com o tempo. Quanto ao prometido desenvolvimento rural, nunca passou de uma miragem.
A gestão das propriedades florestais pelos pequenos proprietários privados não industriais, os quais detêm a maioria das florestas, é normalmente pouco mais que desastrosa. Tendo em conta que os custos de manutenção da floresta são elevados enquanto que os benefícios da sua exploração são incertos, não ocorrem a curto prazo e não são, em grande parte, comercializáveis, o trabalho de manutenção das florestas e de expansão da sua área é, na maior parte dos casos, inexistente. O abate de árvores, por seu lado, é feito segundo as necessidades financeiras momentâneas destes proprietários, seguindo um de dois padrões: abate massivo após um incêndio florestal, deixando a regeneração ao cuidado da natureza ou abate selectivo das melhores árvores, o que leva ao problema da selecção negativa (as árvores sobreviventes serão as piores, o que causa a diminuição da produtividade da floresta). Ambas as práticas levam ainda a que os toros de madeira sejam vendidos com graus de crescimento muito díspares, o que dificulta a monitorização da produtividade e da qualidade da produção das actividades que dependem do abate de árvores.
Esta realidade tende a reforçar-se cumulativamente, num ciclo vicioso interminável. Se é verdade que a má gestão dos recursos florestais leva a que o risco de ocorrência de incêndios florestais aumente, também será verdadeiro que o aumento deste risco diminui a rentabilidade esperada do investimento florestal.
Quanto aos proprietários privados industriais, naturalmente que praticam uma gestão de acordo com os princípios da silvicultura preventiva, de forma a minimizar os riscos de incêndio. A sua dependência de monoculturas industriais, no entanto, leva a que não ofereçam quaisquer perspectivas positivas para o desenvolvimento rural ou para a biodiversidade.
Soluções para sair do impasse
A avaliação do valor das florestas portuguesas, realizada para o Millennium Ecosystem Assessment, da ONU, demonstra claramente que o maior valor não está na pasta de papel ou na madeira mas nos bens não lenhosos. Para além do caso óbvio da cortiça, sustentáculo de um sector exportador importante em Portugal, temos uma riqueza ainda pouco explorada mas muito considerável no conjunto dos produtos que se extraem das florestas, das castanhas aos pinhões, passando pelos cogumelos silvestres e por uma série de outras “miudezas”.
Parece então claro que uma política florestal sustentável tem que assentar na promoção da produção de bens não lenhosos, dada a sua importância económica. O facto de esta produção premiar a fixação dos proprietários florestais nas suas propriedades, combatendo o êxodo rural, apenas reforça esta constatação. Mas as políticas dos sucessivos governos obedecem sempre mais aos interesses dos industriais que dos pequenos proprietários.
O cúmulo desta incoerência atinge-se quando temos um Verão em que assistimos ao país a arder pela televisão. Sempre ansiosos por encontrar um bode expiatório, os órgãos de comunicação social normalmente fazem eco do discurso oficial do governo, atribuindo as culpas dos incêndios aos pequenos proprietários. Apenas quem desconhece por completo o contexto dos produtores florestais em Portugal pode pensar que um pequeno proprietário pode ter os meios necessários para proceder a uma adequada limpeza das matas.
Mas o impasse pode ser superado, mesmo sem recorrer ao emparcelamento e à criação administrativa de latifúndios. As associações de produtores podem e devem ser os intermediários entre o Estado e os produtores, promovendo a formação dos produtores e aproveitando economias de escala. Apenas uma política de desenvolvimento rural realizada em colaboração com os pequenos produtores pode acabar com o abandono das terras.
Os incêndios não são uma inevitabilidade
A falta de meios de prevenção e de combate aos incêndios florestais em Portugal é gritante. Faltam profissionais nos corpos da Polícia Florestal e dos Sapadores Florestais, não temos um corpo de Bombeiros Florestais e a formação dos bombeiros que temos (na sua maioria, voluntários) é insuficiente. Apesar de alguns avanços neste nível, continuamos a ter uma falta de meios aéreos, sendo o Estado forçado a alugar estes equipamentos a preços exorbitantes.
Os incêndios que se verificam todos os anos são previsíveis neste contexto. Igualmente previsível é o abandono em que ficam as áreas ardidas, dado que continuamos a não ter uma política minimamente coerente de reflorestação destas áreas. Como resultado, a monocultura de eucalipto expande-se, alargando-se às áreas anteriormente ocupadas por árvores autóctones na sequência dos incêndios.
Apenas uma política coerente de desenvolvimento rural, concebida em conjunto com as associações de pequenos produtores, pode levar a que tenhamos um sector florestal produtivo, sem colocar em causa as funções ecológicas das florestas, no que concerne a preservação da biodiversidade, a mitigação do efeito de estufa, a regulação dos ciclos hídricos e a prevenção da erosão. Quando finalmente chegarmos lá, veremos que os incêndios florestais e o abandono de propriedades não são inevitabilidades do progresso mas antes o resultado de uma política de “desenvolvimento” voltada apenas para as necessidades das grandes urbes e centrada nos interesses económicos dominantes.

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Comunicado do Bloco de Esquerda sobre a Escola EB2,3 de Minde

Consulte no link abaixo:

Requerimento ao Secretário de Estado do Ambiente

Bloco requereu a vinda do Secretário de Estado do Ambiente

à AR para esclarecer funcionamento da ETAR de Alcanena

O deficiente funcionamento da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena, com mais de 20 anos, tem sido extremamente penalizador para a qualidade de vida e saúde pública das populações deste concelho, além de ser responsável pela poluição de recursos hídricos e solos.

Esta ETAR, destinada a tratar os efluentes da indústria de curtumes, foi desde a sua origem mal concebida, a começar por se situar em leito de cheia. Desde então os problemas são conhecidos e persistem: maus cheiros intensos; incumprimento regular dos valores-limite estabelecidos para o azoto e CQO das descargas de efluente tratado em meio hídrico; célula de lamas não estabilizadas, com deficiente selagem e drenagem de lixiviados e biogás; redes de saneamento corroídas, com fugas de efluentes não tratados para o ambiente; saturação da ETAR devido a escoamento das águas pluviais ser feita nas redes de saneamento.

Desde há muito que estes problemas são conhecidos e nada justifica, ainda mais com todo o avanço tecnológico existente ao nível do funcionamento das ETAR, que se chegue ao final de 2010 com esta situação. E pior se compreende quando é o próprio Ministério do Ambiente a constatar que gastou ao longo dos anos cerca de 50 milhões de euros para tentar responder a estes problemas.

Em Junho de 2009 foi assinado um protocolo para a reabilitação do sistema de tratamento de águas residuais de Alcanena pela ARH Tejo, o INAG, a Câmara Municipal e a AUSTRA (gestora da ETAR), com investimentos na ordem dos 21 milhões de euros de comparticipação comunitária.

Este protocolo inclui cinco projectos, os mais importantes dos quais com prazo final apenas em 2013, o que significa arrastar os principais problemas identificados até esta data. Como os prazos de início dos estudos destes projectos já sofreram uma derrapagem, dúvidas se colocam sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos, ainda mais quando não há certezas sobre a disponibilização de verbas nacionais para co-financiar os projectos, tendo em conta o contexto de contenção actual.

Considerando a gravidade dos problemas causados pela ETAR de Alcanena para as populações e o ambiente, o deputado José Gusmão e a deputada Rita Calvário do Bloco de Esquerda solicitam uma audiência com o Secretário de Estado do Ambiente, com a finalidade de obter esclarecimentos sobre os investimentos previstos para a reabilitação do sistema de tratamento, as soluções escolhidas, o cumprimento de prazos, e as garantias que os mesmos oferecem para resolver o passivo ambiental existente, os focos de contaminação dos recursos hídricos e solo, os maus cheiros e qualidade do ar respirado pelas populações deste concelho. Seria de todo útil que o presidente ou representantes da ARH-Tejo estivessem presentes nesta audiência.

Lisboa, 17 de Dezembro de 2010.

A Deputada O Deputado

Rita Calvário José Gusmão

Direito a não respirar “podre” – SIM ou NÃO?





No passado domingo, dia 12 de Dezembro, no Auditório Municipal de Alcanena, realizou-se uma conferência, dinamizada pelo Bloco de Esquerda, sobre a poluição em Alcanena.
Esta sessão reuniu um grupo de ‘preocupados’, que primeiramente ouviram as exposições de especialistas sobre o assunto e, no final, trocaram experiências e pontos de vista, baseados na própria vivência, bem como em conhecimentos técnicos e científicos.
Ficou bem patente que se trata de um grave problema de há muito sentido, mas também desvalorizado, do qual até ao momento não se conhecem as verdadeiras implicações para a saúde pública, mas que transtorna a vida de todos os que vivem e trabalham no concelho, tornando desagradável e doentio o seu dia a dia.
Ficou também claro que o Bloco de Esquerda, aliado desta causa, não abandonará a luta, que será levada até onde os direitos das pessoas o exigirem.

Comunicado de Imprensa

Leia em baixo o Comunicado de Imprensa de 3 de Dezembro do Bloco de Esquerda em Alcanena.

Clique aqui para ler

Reclamamos o DIREITO A RESPIRAR

Bloco de Esquerda continua na senda de uma solução para o grave problema de poluição ambiental em Alcanena



Na passada sexta-feira, dia doze de Novembro, uma delegação, composta pelo Deputado do Bloco de Esquerda pelo Distrito de Santarém, José Gusmão, e mais dois elementos do Bloco, foi recebida pela administração da Austra, no sentido de esclarecer alguns pontos relativos ao funcionamento da ETAR e à poluição que de há muito tem afectado Alcanena, com acrescida intensidade nos últimos tempos.

O Bloco de Esquerda apresentou já um requerimento ao Ministério do Ambiente, aguardando resposta.

Após a reunião com a administração da Austra, realizou-se na Sede do Bloco em Alcanena uma Conferência de Imprensa para fazer o ponto da situação.

Da auscultação da Austra, ficou claro para o Bloco de Esquerda que a ETAR de Alcanena não reúne as condições minimamente exigíveis, quer do ponto de vista do cumprimento da lei, quer da garantia de índices de qualidade do ar compatíveis com a saúde pública e o bem estar das populações.

A delegação do Bloco de Esquerda obteve do presidente da Austra o compromisso da realização de operações de monitorização da qualidade do ar em Alcanena, a realizar o mais tardar em Janeiro. De qualquer forma, o Bloco de Esquerda envidará esforços para que essa monitorização ocorra de forma imediata.

Embora existam planos para a total requalificação dos sistemas de despoluição, registamos com preocupação a incerteza sobre os financiamentos, quer nacional quer comunitário. O Bloco de Esquerda opor-se-á a que estes investimentos possam ser comprometidos por restrições orçamentais, e exigirá junto do Governo garantias a este respeito.

A participação popular foi e continuará a ser um factor decisivo para o acompanhamento e controlo da efectiva resolução do problema da qualidade do ar em Alcanena.

No âmbito da visita do Deputado do Bloco de Esquerda, José Gusmão, ao Concelho de Alcanena, realizou-se um jantar-convívio no Restaurante Mula Russa em Alcanena, ocasião também aproveitada para dialogar sobre assuntos inerentes ao Concelho. Mais tarde, José Gusmão, conviveu com um grupo de jovens simpatizantes num bar deste concelho.

No sábado, dia treze de Novembro, José Gusmão e outros elementos do Bloco de Esquerda estiveram em Minde, no Mercado Municipal, distribuindo jornais do Bloco, ouvindo e conversando com as pessoas.

Neste mesmo dia, junto ao Intermarché de Alcanena, José Gusmão contactou com as pessoas e entregou jornais do Bloco de Esquerda.

Num almoço realizado em Minde, no Restaurante Vedor, com um grupo de aderentes e simpatizantes do Bloco, houve mais uma vez oportunidade para ouvir opiniões, experiências e expectativas, bem como de exprimir pontos de vista.

O Bloco de Esquerda continuará a luta por um direito que parece ser inerente à própria condição humana, mas que vem sendo negado às pessoas que vivem e trabalham em Alcanena – o direito de respirar ar “respirável” e de não ser posta em causa a sua saúde.


A Coordenadora do Bloco de Esquerda de Alcanena

Poluição em Alcanena: Requerimento à Assembleia da República

Pessoas esclarecidas conhecem o seu direito de respirar ar puro e lutam pela sua reconquista já que alguns até isto usurparam.

O Bloco de Esquerda encetou a luta pela despoluição de Alcanena na legislatura anterior e continuará a manifestar-se e a rebelar-se contra esta desagradável e injusta situação até que no nosso concelho possamos respirar de novo.


Veja aqui Requerimento apresentado pelo BE quanto à questão da poluição em Alcanena

Carta à AUSTRA

Carta entregue pelo grupo de cidadãos "Chega de mau cheiro em Alcanena" ao Presidente da Austra e Presidente da Câmara Municipal de Alcanena

INAUGURAÇÃO DA SEDE DO BLOCO DE ESQUERDA EM ALCANENA

Francisco Louçã inaugurou no passado domingo, dia 31 de Outubro, a Sede do Bloco de Esquerda em Alcanena. Na inauguração esteve também representada a Coordenação Distrital do Partido; estiveram presentes aderentes e convidados. Esta ocasião especial foi uma oportunidade de convívio, acompanhada de um pequeno beberete.
Francisco Louçã falou, como sempre, de forma clara e apelativa, abordando a actual situação crítica do país,apontando as razões, propondo alternativas e caminhos.
Baseando-se no Socialismo Democrático, o Bloco de Esquerda tem sido sempre activo na defesa dos valores da verdadeira Democracia, e propõe-se continuar essa luta. Esta nova Sede é mais um ponto de encontro, de trabalho, de partilha de pontos de vista e de tomada de iniciativas, possibilitando que se ouçam as vozes de todas as pessoas e transmitindo os seus problemas e expectativas.
Trata-se de um pequeno espaço, que representa uma grande vontade de mudança e que espera contar com a presença de todos os que partilhem os ideais de um concelho mais próspero, de uma sociedade mais justa e equilibrada, de um país realmente mais avançado.