domingo, 11 de julho de 2010

Neoliberalismo obrigatório

“Inclina a cerviz, altivo sicambro; adora o que queimaste e queima o que adoraste”, ordenou o bispo Remígio ao bárbaro Clóvis quando este teve de se converter ao cristianismo para ser rei de França. E isso mesmo parecem ter exigido ao social-democrata José Luis Rodríguez Zapatero os chefes de Governo do Eurogrupo, em Bruxelas, a 7 de Maio passado, quando se juntaram ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e aos mercados financeiros para o obrigar a renegar toda a veleidade social, e a converter-se imediatamente ao credo neoliberal. Artigo de Ignacio Ramonet
Somente cinco dias depois, com o fanatismo dos conversos (mas com pretenso «pungimento interno»), o Presidente do Governo – que afirmava, em 2004, «governarei para os mais fracos», e reiterava, em 2008, «governarei a pensar nos que não têm tudo» – anunciava um plano de ajuste terrivelmente impopular. Cinco milhões de pensionistas, três milhões de funcionários, centenas de milhares de idosos necessitados de assistência e meio milhão de futuros pais de 2011 sofrerão as consequências do corte brutal.
Ao mesmo tempo, outros chefes de governo social-democratas, na Grécia e em Portugal, viam-se também forçados a ir a Canossa, retractar-se e humilhar-se, e a acatar as teses ultraliberais que até então, em princípio, tinham combatido.
Insólita mudança. Porque há menos de dois anos, após a quebra do banco Lehman Brothers nos Estados Unidos, os partidários do neoliberalismo estavam derrubados e à defensiva. Eram eles quem renegava então. A “crise do século” parecia demonstrar o fracasso da sua ideologia da desregulação e a necessidade de recorrer de novo ao Estado para salvar a economia e preservar a coesão da sociedade.
Os Governos, inclusive os de direita, retomavam a sua função de actores primordiais da área económica; nacionalizavam entidades financeiras e empresas estratégicas, injectavam massivamente liquidez no sistema bancário, multiplicavam os planos de estímulo… Tanto dirigentes como economistas felicitavam-se por essas decisões que correspondiam às lições tiradas da crise de 1929, quando se demonstrou que as políticas de deflação, de austeridade e de restrição do crédito conduziram à Grande Depressão.
Por isso, no Outono de 2008, todo o mundo anunciou o “regresso a Keynes”. Os Estados Unidos lançaram um plano de resgate dos bancos de 700.000 milhões de dólares, seguido de outro de 800.000 milhões de dólares. Os vinte e sete da União Europeia (UE) puseram-se de acordo num pacote de estímulo de 400.000 milhões de euros. E o governo de José Luis Rodríguez Zapatero, constatando, em Novembro de 2008, que «os três anos consecutivos de superávit orçamental permitem-nos agora incorrer em déficit sem pôr em risco a credibilidade das finanças públicas», anunciou um ambicioso Plano de Estímulo à Economia e ao Emprego de 93.000 milhões de euros.
Além disso, em várias Cimeiras do G-20, os dirigentes dos Estados mais poderosos decidiam acabar com os paraísos fiscais, controlar os fundos de alto risco (hedge funds) e sancionar os abusos dos especuladores causadores da crise. José Manuel Durão Barroso, Presidente da Comissão Europeia, declarava: "As autoridades políticas não tolerarão mais que os especuladores voltem a levantar cabeça e nos arrastem para a situação anterior".
E, no entanto, voltámos à situação anterior. De novo os mercados e os especuladores têm a faca e o queijo na mão. E as autoridades políticas ajoelham-se. Que aconteceu? O peso da dívida soberana consentida pelos Estados para salvar os bancos [1] serviu de pretexto para uma espectacular mudança de situação. Sem o mínimo reparo, os mercados e a especulação financeira, apoiados pelas agências de qualificação (totalmente desacreditadas há apenas uns meses), atacam directamente, no seio da UE, os Estados endividados, acusados agora de viver acima das suas possibilidades. O objectivo principal é o euro. O Wall Street Journal [2] revelou que um grupo de importantes responsáveis estadunidenses de hedge funds, reunido a 8 de Fevereiro num hotel de Manhattan, teria decidido aliar-se para fazer baixar a moeda única europeia para 1 euro face a 1 dólar. Naquele momento, o euro valia 1,37 dólares; hoje já só vale 1,22 e continua ameaçado…
Os mercados querem a sua desforra. E reclamam, com mais vigor que nunca, em nome da “indispensável austeridade”, o desmantelamento da protecção social e a drástica redução dos serviços públicos. Os Governos mais neoliberais aproveitam para exigir maior “integração europeia” em cujo nome tratam de forçar a adopção de dois instrumentos que não existem: um governo económico da União e uma política fiscal comum.
Com o apoio do FMI, a Alemanha impôs planos de ajuste a todos os membros da UE (Grécia, Portugal, Espanha, Itália, França, Reino Unido, Roménia, Hungria, etc.) cujos Governos, de repente obcecados pela redução do gasto público, acataram sem chiar. Ainda que isso ameace a Europa de cair numa profunda Depressão.
Na mesma linha, Bruxelas deseja sancionar os países que não respeitem o Pacto de Estabilidade [3]. Berlim pretende ir mais longe e acrescentar uma sanção altamente política: a suspensão do direito de voto no Conselho Europeu. Com um objectivo claro: nenhum Governo deve sair do carril neoliberal.
No fundo, esse é o saldo político da actual crise da dívida soberana: não parece ficar espaço, no seio da UE, para nenhuma opção de progresso. Admitirão os cidadãos semelhante regressão? Pode aceitar-se que fique descartada qualquer solução democrática de esquerda de impulsionar o avanço social?

[1] Um relatório da Comissão Europeia assinala que o total de fundos comprometidos para os bancos ascende a 3,3 biliões de euros, ou seja, a 28% do PIB da UE!, El País, Madrid, 20 de Junho de 2010.
[2] Susan Pulliam, Hedge Funds Try ‘Career Trade’ Against Euro, The Wall Steet Journal, Nova York, 26 de Fevereiro de 2010.
[3] Adoptado em 1997 e que limita a 3% do PIB o déficit público.
Fonte: Le Monde diplomatique en español

Sem comentários:

Enviar um comentário

Comunicado do Bloco de Esquerda sobre a Escola EB2,3 de Minde

Consulte no link abaixo:

Requerimento ao Secretário de Estado do Ambiente

Bloco requereu a vinda do Secretário de Estado do Ambiente

à AR para esclarecer funcionamento da ETAR de Alcanena

O deficiente funcionamento da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcanena, com mais de 20 anos, tem sido extremamente penalizador para a qualidade de vida e saúde pública das populações deste concelho, além de ser responsável pela poluição de recursos hídricos e solos.

Esta ETAR, destinada a tratar os efluentes da indústria de curtumes, foi desde a sua origem mal concebida, a começar por se situar em leito de cheia. Desde então os problemas são conhecidos e persistem: maus cheiros intensos; incumprimento regular dos valores-limite estabelecidos para o azoto e CQO das descargas de efluente tratado em meio hídrico; célula de lamas não estabilizadas, com deficiente selagem e drenagem de lixiviados e biogás; redes de saneamento corroídas, com fugas de efluentes não tratados para o ambiente; saturação da ETAR devido a escoamento das águas pluviais ser feita nas redes de saneamento.

Desde há muito que estes problemas são conhecidos e nada justifica, ainda mais com todo o avanço tecnológico existente ao nível do funcionamento das ETAR, que se chegue ao final de 2010 com esta situação. E pior se compreende quando é o próprio Ministério do Ambiente a constatar que gastou ao longo dos anos cerca de 50 milhões de euros para tentar responder a estes problemas.

Em Junho de 2009 foi assinado um protocolo para a reabilitação do sistema de tratamento de águas residuais de Alcanena pela ARH Tejo, o INAG, a Câmara Municipal e a AUSTRA (gestora da ETAR), com investimentos na ordem dos 21 milhões de euros de comparticipação comunitária.

Este protocolo inclui cinco projectos, os mais importantes dos quais com prazo final apenas em 2013, o que significa arrastar os principais problemas identificados até esta data. Como os prazos de início dos estudos destes projectos já sofreram uma derrapagem, dúvidas se colocam sobre o cumprimento dos prazos estabelecidos, ainda mais quando não há certezas sobre a disponibilização de verbas nacionais para co-financiar os projectos, tendo em conta o contexto de contenção actual.

Considerando a gravidade dos problemas causados pela ETAR de Alcanena para as populações e o ambiente, o deputado José Gusmão e a deputada Rita Calvário do Bloco de Esquerda solicitam uma audiência com o Secretário de Estado do Ambiente, com a finalidade de obter esclarecimentos sobre os investimentos previstos para a reabilitação do sistema de tratamento, as soluções escolhidas, o cumprimento de prazos, e as garantias que os mesmos oferecem para resolver o passivo ambiental existente, os focos de contaminação dos recursos hídricos e solo, os maus cheiros e qualidade do ar respirado pelas populações deste concelho. Seria de todo útil que o presidente ou representantes da ARH-Tejo estivessem presentes nesta audiência.

Lisboa, 17 de Dezembro de 2010.

A Deputada O Deputado

Rita Calvário José Gusmão

Direito a não respirar “podre” – SIM ou NÃO?





No passado domingo, dia 12 de Dezembro, no Auditório Municipal de Alcanena, realizou-se uma conferência, dinamizada pelo Bloco de Esquerda, sobre a poluição em Alcanena.
Esta sessão reuniu um grupo de ‘preocupados’, que primeiramente ouviram as exposições de especialistas sobre o assunto e, no final, trocaram experiências e pontos de vista, baseados na própria vivência, bem como em conhecimentos técnicos e científicos.
Ficou bem patente que se trata de um grave problema de há muito sentido, mas também desvalorizado, do qual até ao momento não se conhecem as verdadeiras implicações para a saúde pública, mas que transtorna a vida de todos os que vivem e trabalham no concelho, tornando desagradável e doentio o seu dia a dia.
Ficou também claro que o Bloco de Esquerda, aliado desta causa, não abandonará a luta, que será levada até onde os direitos das pessoas o exigirem.

Comunicado de Imprensa

Leia em baixo o Comunicado de Imprensa de 3 de Dezembro do Bloco de Esquerda em Alcanena.

Clique aqui para ler

Reclamamos o DIREITO A RESPIRAR

Bloco de Esquerda continua na senda de uma solução para o grave problema de poluição ambiental em Alcanena



Na passada sexta-feira, dia doze de Novembro, uma delegação, composta pelo Deputado do Bloco de Esquerda pelo Distrito de Santarém, José Gusmão, e mais dois elementos do Bloco, foi recebida pela administração da Austra, no sentido de esclarecer alguns pontos relativos ao funcionamento da ETAR e à poluição que de há muito tem afectado Alcanena, com acrescida intensidade nos últimos tempos.

O Bloco de Esquerda apresentou já um requerimento ao Ministério do Ambiente, aguardando resposta.

Após a reunião com a administração da Austra, realizou-se na Sede do Bloco em Alcanena uma Conferência de Imprensa para fazer o ponto da situação.

Da auscultação da Austra, ficou claro para o Bloco de Esquerda que a ETAR de Alcanena não reúne as condições minimamente exigíveis, quer do ponto de vista do cumprimento da lei, quer da garantia de índices de qualidade do ar compatíveis com a saúde pública e o bem estar das populações.

A delegação do Bloco de Esquerda obteve do presidente da Austra o compromisso da realização de operações de monitorização da qualidade do ar em Alcanena, a realizar o mais tardar em Janeiro. De qualquer forma, o Bloco de Esquerda envidará esforços para que essa monitorização ocorra de forma imediata.

Embora existam planos para a total requalificação dos sistemas de despoluição, registamos com preocupação a incerteza sobre os financiamentos, quer nacional quer comunitário. O Bloco de Esquerda opor-se-á a que estes investimentos possam ser comprometidos por restrições orçamentais, e exigirá junto do Governo garantias a este respeito.

A participação popular foi e continuará a ser um factor decisivo para o acompanhamento e controlo da efectiva resolução do problema da qualidade do ar em Alcanena.

No âmbito da visita do Deputado do Bloco de Esquerda, José Gusmão, ao Concelho de Alcanena, realizou-se um jantar-convívio no Restaurante Mula Russa em Alcanena, ocasião também aproveitada para dialogar sobre assuntos inerentes ao Concelho. Mais tarde, José Gusmão, conviveu com um grupo de jovens simpatizantes num bar deste concelho.

No sábado, dia treze de Novembro, José Gusmão e outros elementos do Bloco de Esquerda estiveram em Minde, no Mercado Municipal, distribuindo jornais do Bloco, ouvindo e conversando com as pessoas.

Neste mesmo dia, junto ao Intermarché de Alcanena, José Gusmão contactou com as pessoas e entregou jornais do Bloco de Esquerda.

Num almoço realizado em Minde, no Restaurante Vedor, com um grupo de aderentes e simpatizantes do Bloco, houve mais uma vez oportunidade para ouvir opiniões, experiências e expectativas, bem como de exprimir pontos de vista.

O Bloco de Esquerda continuará a luta por um direito que parece ser inerente à própria condição humana, mas que vem sendo negado às pessoas que vivem e trabalham em Alcanena – o direito de respirar ar “respirável” e de não ser posta em causa a sua saúde.


A Coordenadora do Bloco de Esquerda de Alcanena

Poluição em Alcanena: Requerimento à Assembleia da República

Pessoas esclarecidas conhecem o seu direito de respirar ar puro e lutam pela sua reconquista já que alguns até isto usurparam.

O Bloco de Esquerda encetou a luta pela despoluição de Alcanena na legislatura anterior e continuará a manifestar-se e a rebelar-se contra esta desagradável e injusta situação até que no nosso concelho possamos respirar de novo.


Veja aqui Requerimento apresentado pelo BE quanto à questão da poluição em Alcanena

Carta à AUSTRA

Carta entregue pelo grupo de cidadãos "Chega de mau cheiro em Alcanena" ao Presidente da Austra e Presidente da Câmara Municipal de Alcanena

INAUGURAÇÃO DA SEDE DO BLOCO DE ESQUERDA EM ALCANENA

Francisco Louçã inaugurou no passado domingo, dia 31 de Outubro, a Sede do Bloco de Esquerda em Alcanena. Na inauguração esteve também representada a Coordenação Distrital do Partido; estiveram presentes aderentes e convidados. Esta ocasião especial foi uma oportunidade de convívio, acompanhada de um pequeno beberete.
Francisco Louçã falou, como sempre, de forma clara e apelativa, abordando a actual situação crítica do país,apontando as razões, propondo alternativas e caminhos.
Baseando-se no Socialismo Democrático, o Bloco de Esquerda tem sido sempre activo na defesa dos valores da verdadeira Democracia, e propõe-se continuar essa luta. Esta nova Sede é mais um ponto de encontro, de trabalho, de partilha de pontos de vista e de tomada de iniciativas, possibilitando que se ouçam as vozes de todas as pessoas e transmitindo os seus problemas e expectativas.
Trata-se de um pequeno espaço, que representa uma grande vontade de mudança e que espera contar com a presença de todos os que partilhem os ideais de um concelho mais próspero, de uma sociedade mais justa e equilibrada, de um país realmente mais avançado.